A hipertensão é uma epidemia global que ameaça milhões de vidas. O número de pessoas com pressão alta dobrou nos últimos anos e a maioria não sabe que está doente. Em entrevista, o Dr. Fernando Montenegro, alerta para os riscos e destaca a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado.
A hipertensão arterial afeta um em cada três adultos em todo o mundo. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, a pressão alta afeta 30 milhões de pessoas. Esta condição pode causar derrames, ataques cardíacos, insuficiência cardíaca, danos renais e muitos outros problemas de saúde. Quase metade das pessoas hipertensas desconhecem ter a doença.
As doenças Cardiovasculares ou DCV são a principal causa de morte, hospitalizações e atendimentos ambulatoriais em todo o mundo, inclusive em países em desenvolvimento como o Brasil.
Um aumento no número de pacientes tratados efetivamente para hipertensão, nos níveis observados em países com alto desempenho, poderia evitar 76 milhões de mortes, 120 milhões de derrames, 79 milhões de ataques cardíacos e 17 milhões de casos de insuficiência cardíaca até 2050.
Dúvidas frequentes: Dr. Fernando Montenegro esclarece as principais questões sobre a hipertensão
O que é pressão arterial?
É uma doença crônica definida pelo aumento dos níveis pressóricos. Condição multifatorial caracterizada por elevação persistente da pressão arterial (PA), ou seja, PA sistólica (PAS) maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica (PAD) maior ou igual a 90 mmHg.
O que é o risco cardiovascular?
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é um fator de risco cardiovascular modificável, ou seja, ela tem tratamento, com associação direta a doenças cardiovasculares (AVC, IAM, ICC), doença renal crônica e morte prematura.
Qual é a causa da hipertensão?
A Hipertensão Arterial Sistêmica é uma doença multifatorial e diversos fatores estão associados:
- Fator genético;
- Idade – 65% dos indivíduos acima de 60 anos tem HAS;
- Sexo – até os 60 anos a HAS é mais prevalente em homens;
- Sobrepeso/obesidade;
- Ingestão de sódio e potássio;
- Sedentarismo;
- Álcool;
- Apneia obstrutiva do sono;
- Fatores socioeconômicos.
Quais são os sintomas da hipertensão?
A Hipertensão Arterial Sistêmica é assintomática e por isso é um dos grandes problemas de saúde pública. Os sintomas ocorrem de complicações da doença. Por exemplo, a dor no peito decorrente de doença coronariana.
Existem quantos tipos de hipertensão?
A hipertensão arterial ela pode ser classificada de duas formas: primária ou essencial (é a forma clássica decorrente dos fatores de risco previamente descritos) ou secundária (quando existe um mecanismo específico contribuindo para o desenvolvimento da hipertensão – neste caso a doença pode ser curada)
A hipertensão primária pode ser classifica da seguinte forma:
- PA ótima < 120/80mmHg
- PA normal: 120-129/80-89mmHg
- Pré-hipertensão: 130-139/85-89mmHg
- HAS estágio 1: 140-159/ 90-99mmHg
- HAS estágio 2: 160-179/100-109mmHg
- HAS estágio 3 ≥ 180/110mmHg
Posso ter hipertensão apenas no consultório médico?
Sim. Existe uma entidade chamada hipertensão do jaleco branco, em que os níveis pressóricos só aumentam no consultório médico. Esse fenótipo tem menor risco de eventos cardiovasculares.
Onde a hipertensão afeta?
A Hipertensão Arterial Sistêmica pode afetar diversos órgãos:
- Coração: infarto do miocárdio, doença coronariana, dissecção aorta, insuficiência cardíaca;
- Cérebro: acidente vascular cerebral isquêmico e hemorrágico, pode estar associado a demência vascular;
- Rim: doença renal crônica e necessidade de hemodiálise;
- Olhos: retinopatia hipertensiva.
Qual valor de pressão é mais perigoso: sistólica ou diastólica?
Ambas as pressões estão relacionadas ao maior risco de eventos cardiovasculares.
Se a pressão estiver muito alta, devo ir ao hospital ou não?
Depende. Consideramos pressões acima de 180/110mmHg perigosas, mas não significa que obrigatoriamente precisa de tratamento hospitalar. A indicação de procurar atendimento de emergência está relacionada a sintomas como sonolência, dor no peito, dispneia.
Dor de cabeça é sinal de pressão alta?
Sim e não. Normalmente a cefaleia é a causa da hipertensão e não consequência, isto é, o paciente fica hipertenso por causa da cefaleia e tratando a mesma a pressão tende a controlar. Na verdade, situações de dor tendem a elevar a pressão arterial. Em casos específicos, de pressão muito elevada a cefaleia pode ser um sintoma de emergência hipertensiva.
O paciente hipertenso deve fazer exercício físico?
Sim, a atividade física é um dos tratamentos não farmacológicos que mais contribuem na redução da pressão arterial. Por exemplo, atividade física aeróbica 150min/semana contribui para redução de 5/7mmHg na pressão arterial.
Quem toma remédio para pressão alta, precisará fazer isso por toda a vida?
A Hipertensão Arterial Sistêmica é uma doença crônica que não tem cura. Há necessidade de tratamento pela vida toda. No entanto, se o paciente consegue aderir as mudanças de estilo de vida, isto é, ao tratamento não farmacológico, ele pode não precisar fazer uso de tratamento farmacológico.
Existem alimentos que devem ser evitados para quem tem hipertensão?
Existem recomendações em relação a alguns alimentos, como:
- Sal: 2g/dia;
- Potássio: A substituição ou redução do sódio pelo potássio parece ter efeito benéfico na redução da pressão arterial;
- Café: Na falta de evidências robustas, recomenda-se que o consumo de café não exceda a quantidades baixas a moderadas (≤ 200 mg de cafeína);
- Álcool: dose baixa de álcool pode ter efeito em reduzir a pressão arterial. No entanto, deve-se levar em conta outros efeitos deletérios que o álcool pode causar.
O Hospital Adventista Silvestre concorda com a Organização Mundial da Saúde (OMS) que define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”. Por isso, recomenda o uso dos 8 remédios naturais para manter uma qualidade de vida completa: ar puro, luz solar, água, repouso, exercício físico, alimentação equilibrada (se possível, o vegetarianismo), temperança e confiança em Deus.
O artigo é uma colaboração do cardiologista Dr. Fernando Montenegro, que é Gerente Médico do Hospital Adventista Silvestre, Unidade Rio de Janeiro.